Autor: Eng. Fernando Santesso, Diretor de Projetos da AURESIDE
Publicado na revista Lumiere Electric de dezembro de 2018
Publicado na revista Lumiere Electric de dezembro de 2018
O Brasil é o quarto país do mundo com mais
prédios certificados com selos de construção sustentável. Contabiliza-se
atualmente mais de 600 empreendimentos com a certificação LEED (Leadership in
Energy and Environmental Design). Com
esse número o país fica atrás de Estados Unidos, que conta com mais de 40 mil
prédios, China e Emirados Árabes.
Mas a certificação LEED do Green Building
Council não é o único selo/certificado de construção sustentável no país, sendo
que existem diversas outras tais como:
· Processo AQUA (Alta Qualidade Ambiental) –
certificação internacional de construções sustentáveis baseada no processo
francês Démarche HQE, desenvolvido e adaptado à regulamentação brasileira pela
Fundação Vanzolini.
· O Programa Nacional de Eficiência Energética
em Edificações – Procel Edifica – foi criado em 2003 pela Eletrobrás/Procel.
· O Selo Casa Azul da Caixa, que criou uma classificação
socioambiental para os projetos habitacionais que financia, sendo uma forma que
o banco encontrou de promover o uso racional de recursos naturais nas
construções e a melhoria da qualidade da habitação.
· BREEAM do Building Research Establishment
(BRE), instituição inglesa responsável pela criação do selo, em 1992. Muito
popular no Reino Unido e nos países europeus.
Dentre outras certificações existentes e não
mencionada aqui. O fato é que essas certificações surgiram com o objetivo de
criar métodos de análise do grau de impacto da edificação como consumidora de
recursos do ambiente onde está instalada. Dados do setor de energia apontam que
as edificações, que compreendem os setores residencial, comercial e público,
respondem por volta de 15% do consumo de energia total e 51% do consumo de
eletricidade no Brasil. Estima-se que haja um potencial de redução deste
consumo de até 50% para novas edificações e 30% para aquelas que promoverem
reformas que contemplem os conceitos de eficiência energética em edificações.
A eficiência das edificações, como muito tem
sido debatido nessa coluna, é um conceito relacionado ao uso eficiente de
recursos, como energia, água e materiais, na construção, operação e manutenção
dos edifícios.
Os selos e certificações existentes ajudam a
realizar uma análise sobre dos empreendimentos sobre diversos aspectos, mas
principalmente na sustentabilidade ambiental e também financeira da edificação.
Em suma as essas certificações avaliam e
creditam a edificação em suas diversas fases: Concepção (Projeto), Realização
(Obra) e Operação (Uso), buscando garantir a aplicação de boas práticas em
projeto, construção e uso da edificação, minimizando os efeitos gerados pela
construção do edifício.
O edifício certificado é avaliado em todas as
dimensões que o compõe e embora haja diferenças nas metodologias e processos
adotados por cada uma das instituições certificadoras, é possível agrupar a
análise sobre os seguintes aspectos:
·
Eficiência e Gestão do Uso de Recursos;
·
Qualidade Ambiental e Conforto;
·
Impactos Ambientais.
·
Uso de Materiais e Recursos Sustentáveis;
Os sistemas de automação e gestão predial tem
importância significativa sobre cada um desses aspectos, exceto o uso de
materiais e recursos sustentáveis.
Esse artigo dará uma visão breve e abrangente
de como os Sistemas de Automação e Gestão de Edificações são importantes e
contribuem para uma construção sustentável e obtenção de selos e certificações.
Não serão discutidas as metodologias e
apurações de pontuação do Sistema de Automação para cada uma das certificações,
pois para isso seria necessário um material muito mais extenso. Mas, serão
apontadas aplicações que com certeza agregam na análise da edificação como um
prédio eficiente e sustentável.
Eficiência e
Gestão do Uso de Recursos.
A aplicação de sistemas de automação e gestão
predial para eficiência no uso de recursos de água e energia talvez seja o item
mais fácil e intuitivo de identificar. Ao longo dos artigos escritos para essa
coluna foi apresentado uma série de possibilidades de uso de sistemas de
automação para redução do consumo de energia e água, além de monitoramento
desses recursos.
Um edifício que opere com sistemas de
automação possui ferramentas que permitem alcançar elevado grau de eficiência,
pois através desses sistemas é possível ter um controle efetivo de consumo do
prédio, bem como a obtenção de dados e informações que possibilitam tomar ações
que melhoram o desempenho da edificação ao longo de seu ciclo de vida.
Segundo a ASHRAE (American Society for
Heating, Refrigeration & Air Conditioning Engineers), 50% dos custos de uma
edificação são decorrentes de sua operação e desse percentual cerca de 40% é
referente aos custos com sistema de climatização e 25% com iluminação. O uso de
sistemas de automação, por exemplo, quando aplicado ao sistema de climatização
e iluminação pode garantir reduções de consumo de energia entre 10% a 40%, o
que garante uma operação mais sustentável tanto do ponto de vista ambiental,
quanto financeiro da edificação.
Portanto, para o controle e gestão de
recursos (água e energia) a aplicação de sistemas de automação agrega muito
valor para obtenção de selos e certificações.
Qualidade
Ambiental e Conforto
Para qualidade ambiental e conforto, embora
não tão intuitivo quanto é no tópico anterior, os sistemas de automação tem
contribuições significativas a oferecer.
A qualidade ambiental e conforto estão
relacionados, no âmbito de avaliação de selos e certificações, à qualidade de
ar, controle e conforto térmico da edificação, tópicos onde os sistemas
automatizados e integrados tem fundamental relevância.
Por exemplo, a análise do ar interno da
edificação pode ser feita através dos sistemas de automação que através de sensores
monitoram sua condição e podem tomar decisões de acionar sistemas de ventilação
e filtros para a manutenção qualidade. Esses mesmos sistemas podem monitorar
níveis de gases tóxicos como CO2 e realizar a renovação de ar da edificação
quando for necessário. Ademais, o conforto térmico pode ser mantido dentro de
parâmetros estabelecidos por norma através de controles do sistema de automação
integrado ao sistema de climatização.
Com sistemas automatizados é possível
controlar e monitorar os parâmetros para o fornecimento de qualidade e conforto
do ambiente e garantir uma avaliação elevada nesse quesito para certificação.
Impactos
Ambientais
Já os impactos ambientais podem ser
discutidos sobre diversas ópticas e os selos e certificações têm suas
metodologias para analisar e avaliar essa dimensão. Entretanto, é impossível
negar que edificações com sistemas de automação não mitigam o impacto que geram
no entorno de suas construções. Citando um exemplo simples dentro do âmbito da
Certificação LEED, a Redução da Poluição Luminosa, item avaliado para a
obtenção da certificação, pode ser implantada pela simples integração do sistema
de iluminação ao sistema de automação da edificação com uso de controle por
agendamento, sensores e controle de nível de luminosidade.
Além disso, sistemas de controle de acesso
dinâmicos e integrados podem reduzir o impacto no tráfego local e a própria
integração do edifico a comunidade pode ser realizada através do sistema de
automação e redes de dados de maneira a implantar o conceito de smart
communities.
Prédios automatizados certamente são menores
consumidores de recursos e atuam de maneira mais eficaz e dinâmica tanto para a
população interna da edificação, quanto para aqueles que estão em seu entorno.
Consequentemente, sistemas de automação colaboram para que os edifícios causem
menos impacto no ambiente em que estão inseridos.
Automação
para Eficiência e não para Certificação.
Fica claro que, independente da metodologia
adotada pelas certificações, os sistemas de automação e gestão predial são
importantes ferramentas e pontuam na obtenção de certificação, contudo é
primordial não esquecer que o objetivo final deve ser o real ganho na
eficiência do edifício.
Não se trata de usar tecnologia de maneira
incontida para ganhar créditos na obtenção de certificados, mas da correta
aplicação para o devido fim e propósito que é garantir a sustentabilidade da
edificação ao longo de seu clico de vida.
Por esse motivo é necessário ter uma boa consultoria
e bons projetistas envolvidos para desenhar o melhor sistema (não o mais
tecnológico) para a edificação, levando em consideração aspectos como a
localização, população e uso do edifício.
Trata-se do uso da automação para eficiência
e não para a certificação, pois quando bem projetado o sistema, o bom
desempenho na avaliação da certificação é consequência e não objetivo.
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